A cerâmica constitui um dos materiais mais antigos utilizados pelo Homem, tornando-se durante séculos um material de predileção para uso doméstico, transformando-se mais tarde num material de eleição em revestimento arquitetónico, vulgarizando-se no uso do azulejo, quer no chão quer no teto, e posteriormente nas paredes.
Na Península Ibérica, a arte da azulejaria vulgarizou-se na Andaluzia a partir do século XIII, graças aos árabes, fortes adeptos desta técnica de ornamentação. Em Portugal, o azulejo passou a ser usado entre os finais do século XV/ primeira metade do século XVI, embora preservado e adaptado, nascendo desta adaptação o estilo hispano-mourisco.
Nos Açores, entre os séculos XV e XVIII, o azulejo era importado de diferentes zonas nacionais e internacionais, porém só a partir do século XIX, se começou a produzir azulejos na ilha de São Miguel, graças à fundação de várias fábricas de cerâmica, nomeadamente no concelho da Lagoa, tornando-se uma referência na produção de cerâmica.
Destaca-se a Fábrica Cerâmica Vieira, ex-líbris da cidade de Lagoa, fundada em 1862, na qual, seus fundadores foram: Bernardino da Silva, natural de Coimbrões, freguesia de Santa Marinha, concelho de Vila Nova de Gaia; Manuel Leite Pereira, natural de Peso da Régua; Tomáz d’Avila Boim, natural da ilha do Pico; e Manuel Joaquim d’Amaral, natural da Povoação. Esta fábrica é dos poucos patrimónios industriais e artísticos que têm resistido ao longo de cinco gerações familiares, sendo atualmente a única fábrica de cerâmica vidrada existente no Arquipélago dos Açores, que fabrica na totalidade toda a sua loiça nas suas instalações. A sua produção continua a ser artesanal, desde a moldagem na velha roda do oleiro até à pintura manual, com uma decoração muito característica onde predomina a cor azul e branca, sendo vulgarmente conhecidas por “Louça da Lagoa”.
No património religioso da freguesia de Santa Cruz, encontram-se dois magníficos edifícios de cariz religioso – ermidas – com exemplares de azulejos.
Por forma a enaltecer a Lagoa como terra de cerâmica, e atendendo que por detrás do retábulo do altar-mor desta igreja se encontram alguns azulejos a cobrir o rodapé, suspeitando-se que sejam os azulejos que sobraram da Ermida de Nossa Senhora do Cabo, bem como, alguns exemplares da tijoleira hidráulica que reveste a Capela colateral do Santíssimo Sacramento, tornava-se estritamente necessário fazer-se uma referência.
Para além da cerâmica de revestimento, e aliada ao facto de constar cerâmica de equipamento, visto que, este espaço é visto, na maior parte das igrejas, como um prolongamento da sacristia, para arrumação ou apoio às cerimónias litúrgicas, criou-se o Núcleo da Cerâmica e Azulejaria onde se vislumbram cerca de vinte e cinco peças.
+ ERMIDA DE NOSSA SENHORA DO CABO
![ERMIDA DE NOSSA SENHORA DO CABO](/images/Conteudo/patrimonio/ENSC.jpg)
Ermida situada na freguesia de Santa Cruz, edificada pelo Padre João Alves da Cruz em 1675, por licença obtida do Bispo D. Fr. Lourenço de Castro a 6 de outubro de 1674. A invocação desta ermida a Nossa Senhora do Cabo deve-se ao facto do seu fundador ter uma grande devoção a Nossa Senhora do Cabo de Espichel, na Extremadura. Também invocada nesta cidade sob o título de Nossa Senhora da Estrela, devido ao dia escolhido pelo seu fundador para a sua festa ser o dia 2 de fevereiro dedicado a Nossa Senhora da Estrela. A banda filarmónica desta freguesia “Estrela d’Alva”, fundada em 1887, elegeu esta como protetora.
Esta ermida, um dos ex-libris do concelho da Lagoa, encontra-se revestida na fachada por azulejos policromos datados de 1678, com várias configurações. No cimo da porta apresenta uma cartela central que ostenta a seguinte inscrição:
NOSA SA
DO CABO FACTA
APA … E IOANE AL
… RVCE
ANNO
1675
Interior de uma só nave revestida, também, por azulejos policromos. Apresenta um altar riquíssimo em talha.
A Ermida encontra-se classificada como Imóvel de Interesse Público.
+ ERMIDA DE NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS
![ERMIDA DE NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS](/images/Conteudo/patrimonio/ENSR.jpg)
Ermida situada no lugar dos Remédios, parte integrante da freguesia de Santa Cruz, construída no sítio onde antes havia um curral e ovelhas, entre os finais do século XV e inícios do século XVI, fundada por Pêro Velho, sobrinho do descobridor dos Açores Gonçalo Velho, e sua esposa Catarina Afonso, sob devoção a Nossa Senhora dos Remédios. Ermida única na ilha de São Miguel, por apresentar uma fachada que foge ao tradicional e um alpendre coberto nos lados. Apresenta no interior um frontal de altar revestido a azulejos oriundos da Ermida da Mãe de Deus, situada na freguesia de São Pedro (Ponta Delgada),em substituição do primitivo frontal de altar de azulejos hispano-mourisco, o mais antigo dos Açores, que foi retirado na primeira metade do século XX por Luís Bernardo Leite de Ataíde, por estar danificado, tendo sido levado para o Museu Carlos Machado, onde se encontra em exposição.
A Ermida de Nossa Senhora dos Remédios foi desde a sua origem até 1958 uma propriedade privada, e nos finais do século XX doada à Paróquia de Santa Cruz pelo Dr. Leonardo de Moraes Motta, passando a estar sobre domínio público.
À semelhança da Ermida de Nossa Senhora do Cabo, esta Ermida encontra-se classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1980.